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sábado, 9 de abril de 2011

Prática Educativa

Desenvolvimento dos estados de consciência e ludicidade
Este texto foi publicado, anteriormente, nos Cadernos de Pesquisa, do Núcleo de FACED/UFBA, vol. 2, n.21, 1998, p. 9-25

Cipriano Carlos Luckesi

Já por alguns anos, venho estudando e trabalhando com as práticas lúdicas como recurso de desenvolvimento do ser humano . Mais recentemente, tenho voltado minha atenção para a questão do desenvolvimento dos estados de consciência e a ludicidade. Afinal, desenvolvimento do ser humano e desenvolvimento dos estados de consciência são denominações que dizem a mesma coisa, por vias e perspectivas diferentes.
Em função disso, tenho desenvolvido, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Bahia, estudos sobre ludicidade e prática educativa. O propósito dos estudos é compreender e exercitar o “desenvolvimento dos estados de consciência, através da atividade lúdica”.
No transcorrer das atividades acadêmicas, nós --- os alunos e eu --- vivenciamos a experiência de alguns estados de consciência, dos quais somos capazes de nos aproximar, e procuramos compreender, teoricamente, o que ocorre com cada um de nós e como isso ocorre, fazendo pontes com e para o processo de desenvolvimento, da infância à velhice, tanto do ponto de vista corporal, quanto emocional e espiritual. Afinal, o ser humano é uno, mas com múltiplas dimensões. As dimensões corporal, emocional e espiritual, de fato, são tão somente dimensões de um ser uno e integrado e não partes que podem ser destacadas. Falar do corporal, no ser humano, é, simultânea e univocamente, falar do emocional e do espiritual; assim como, quando falamos do emocional, falamos, ao mesmo tempo, do corporal e do espiritual. Em qualquer uma destas dimensões, dão-se as outras. Afinal, tudo se dá no “bios”, síntese e sede de todas as experiências humanas .
No que se segue, desejo configurar uma compreensão, ainda que inicial, dessa temática.

1. Os estados de consciência

Em primeiro lugar, assumo que tudo o que existe, de alguma forma, é Consciência e que, na trajetória da história, o Ser, assim, tem se manifestado. A terra, em sua evolução, torna-se auto-consciente, através do ser humano. Hegel, em suas formulações filosóficas, explicita que a Idéia, através da sua realização na natureza e na história, constitui-se em Espírito Absoluto. Teilhard de Chardin, através de seus estudos paleontológicos, desvenda uma trajetória evolucionista na terra, cujo eixo central passa pelo desenvolvimento da consciência, manifestado, biologicamente, pelo desenvolvimento do sistema nervoso. Hoje, uma grande ala de físicos parece já não mais ter dúvidas a esse respeito . Assim sendo, se o Ser é Consciência, necessitamos de aprender a manifestá-la em nossa vida pessoal, criando as condições para que isso possa acontecer.
Com isto, estou querendo dizer que a CONSCIÊNCIA é o SER. Nós somos centelhas individualizadas, mas não separadas do Ser; e, no nosso existir concreto, natural e histórico, manifestamos suas qualidades (de Ser como CONSCIÊNCIA), na medida de nossas possibilidades e na medida do nosso estado desenvolvimento.
Ken Wilber, um teórico importante da psicologia transpessoal, em seu livro Los tres ojos del conoscimiento , nos diz que, além dos inconscientes já conhecidos e abordados tanto pela psicologia freudiana (inconsciente reprimido) quanto pela psicologia junguiana (inconsciente criativo), temos um inconsciente emergente, que contém, em potencial, todas as qualidades que poderemos manifestar em nossa trajetória de vida, caso nos tornemos capazes de manifestá-las. A manifestação dos estados mais sutis de consciência exige, por sua vez, patamares de desenvolvimento mais sofisticados também. Um determinado patamar de consciência, muitas vezes, ainda, não pode ser manifesto por uma determinada pessoa, por determinado grupo ou por determinada época histórica. Não deve ser em vão que somente alguns grupos humanos podem manifestar certos conhecimentos, em determinadas épocas históricas; como não deve ser em vão que a humanidade, nunca anteriormente, teve a consciência que tem hoje de si mesma e das coisas, através da filosofia, da ciência, da religião, da literatura, da arte, etc... Um estado de consciência que não pode ser manifestado, ainda, tem a ver com a impossibilidade do sistema nervoso, individual e coletivo , não estar suficientemente desenvolvido, em suas nesgas mais sutis, para sustentar essa manifestação.
Por vezes, nos perguntamos, “como uma pessoa X não pode assumir tal atitude e outros podem?” Ou “como tal grupo não pode compreender isso, se nós já compreendemos de forma tão simples?“ Ou “como, em tal momento histórico, não se pode ver isso?” Pois bem, não é ou não era possível ver ou compreender tal coisa, devido ao fato de não possuir um desenvolvimento que lhe possibilite ou lhe possibilitasse manifestar a conduta que estamos esperando. Jesus Cristo teve que, durante trinta anos, preparar-se física, emocional e espiritualmente, para suportar a carga de Consciência Divina que deveria manifestar. A Luz Divina (quer dizer a CONSCIÊNCIA), que deveria manifestar, era tal, em sua força, que ele não possuía base para manifestá-la. Trinta anos de autodesenvolvimento e preparação foram necessários para que ele pudesse sustentar a carga da manifestação da CONSCIÊNCIA pelo período de três anos. Ele precisou de se preparar suficientemente bem para poder manifestar a Luz Divina, que ele veio para manifestar. Só uma vez, durante sua vida, ele transfigurou-se em Luz, no monte Tabor, diante de três dos seus discípulos.
O nosso sistema nervoso se “queimaria”, por dentro, com a manifestação da plenitude da Luz. Não suportamos isso. Importa tempo e preparação para que isso possa se dar, e ainda, em variados níveis; nunca será a plenitude da Luz, de uma só vez. Não é à toa que a humanidade vem, lentamente, desenvolvendo seus estados de consciência. Só agora, nos últimos séculos, estivemos suportando manifestar a consciência científica; e todos nós sabemos o quanto ela vem se desenvolvendo, recentemente, apesar dos seus limites.
Por outro lado, todos nós sabemos como somos resistentes a assimilar as descobertas realizadas por algumas mentes humanas mais desenvolvidas. No início, somos reticentes. Cada vez que temos uma compreensão nova de alguma coisa, que não é comum entre nossos pares, parece que vamos nos enlouquecer. Temos muitas dúvidas e incertezas, assim como medos. Nos perguntamos: “como os outros verão isso?” E, por vezes, demoramos muito tempo assimilando nossa descoberta dentro de nós mesmos, até que adquirimos força e a manifestamos. As informações novas, que nos chegam, “não cabem em nossa cabeça”; por isso, as recusamos literalmente. Elas “queimariam” nosso cérebro, caso permitíssemos que elas se manifestassem, de vez.
Assim sendo, um novo estado de consciência chega vagarosamente. A experiência biográfica de filósofos, cientistas, mestres espirituais, nos atesta isso. Os cientistas intuem novas interpretações, mas temem anunciá-las. Os pares os considerariam loucos varridos. Copérnico faleceu sem ter a coragem de assinar sua obra principal, por exemplo. Einstein necessitou do apoio de cientistas mais aceitos na academia para que, aos vinte e três anos, pudesse divulgar sua concepção sobre a relatividade. Freud, durante sua vida toda, enfrentou a oposição do pensamento dominante em sua época. E, assim poderíamos lembrar miríades de situações, onde o novo tem dificuldade para manifestar-se.
Um exemplo de acesso a um estado de consciência, para o qual não se está preparado e que “queima” cérebro, dá-se com os usuários de drogas, que alteram os estados de consciência, de modo abrupto e inesperado. O uso de drogas possibilita que seu usuário ultrapasse portais do conhecimento, que ele ainda não é capaz de assimilar e sustentar. Ele é tragado para dentro do portal e, então, tem dificuldade de retornar ao seu estado normal de consciência; ocorrendo mesmo que, por vezes, um drogado não consegue mais retornar a este nível de consciência, no qual, usualmente, vivemos nossa cotidianidade. O Mestre Don Juan, em A erva do diabo , da autoria de Carlos Castañeda, não tem dúvida em não permitir que seu aprendiz faça uso inadequado dos cogumelos, das ervas e dos fumos, que ensina a utilizar, deixando claro os seus perigos, quando usados sem suficiente preparação, e que existem outros caminhos, mais sutis, para chegar aos estados incomuns de consciência, sem que seja necessário o uso de qualquer elemento externo; uma caminho de treinamento atento e consciente, de busca de si mesmo e do auto-conhecimento. O Mestre Don Juan sabia dos perigos da ultrapassagem indevida dos portais de consciência; indevidas, em função do despreparo do sujeito para acessar essas experiências.
Assim sendo, estados variados de consciência existem e eles são as múltiplas manifestações do SER, porque o Ser é CONSCIÊNCIA, é LUZ e nosso cérebro, como núcleo de sustentação dos nossos estados de consciência, não suporta manifestar mais Luz do que está preparado para fazer. É para isso que deve servir a educação: criar condições, para que, disciplinadamente, cada um de nós possa ter acesso a níveis, cada vez mais sutis, de consciência.
Antes de darmos mais um passo neste nosso estudo, importa reafirmar que consciência não é abstração, algo intocável, mas sim aquilo que somos na totalidade do nosso ser, o que inclui, simultaneamente, as dimensões do corpo, da personalidade (emoção) e da espiritualidade. Integradamente, o corpo deve ser capaz de permitir a percepção límpida de tudo o que acontece; para isso, importa, ao mesmo tempo, que a experiência emocional não enevoe o campo perceptivo, com seu turbilhão de força, usualmente, não-transparente, como também importa que nossa experiência espiritual não nos conduza ao engodo de nos sentirmos “deuses” todo-poderosos, os “especiais” em relação a totalidade das outras pessoas.


2. Desenvolvimento dos estados de consciência

Assumimos, em segundo lugar, que o inconsciente emergente, que contém nossas possibilidades e do qual falamos anteriormente, de fato, emerge na trajetória de nosso desenvolvimento. No decorrer da nossa existência, através de nossas múltiplas interações e práticas existenciais, no espaço e no tempo, vamos constituindo nossa capacidade de manifestar aquilo que somos: LUZ. Por vezes, poderemos estar em estágios tão pouco desenvolvidos, que parece que não temos nenhuma possibilidade de manifestar qualquer quinhão de LUZ, por menor que ele seja. Nesta situação, estamos tão envolvidos pela densidade do universo físico, que não conseguimos abrir, se quer, uma fresta para que a Luz se manifeste através de nós. Contudo, com certeza, ela está lá, a espera da possibilidade de se manifestar; de se atualizar, como diria Aristóteles.
Porém, esse não é um estado definitivo para cada um de nós e para cada um dos seres humanos, tomados individual ou coletivamente. Esse é o estado do aqui e agora, mas a possibilidade do desenvolvimento está posta para todos; aliás, nós, como somos e vivemos hoje, somos manifestações do processo evolutivo; seja do ponto de vista individual, na medida que temos nossa história pessoal de desenvolvimento, seja do ponto de vista coletivo da humanidade, seja do ponto de vista do universo físico e do planeta terra, desde que, também, a humanidade e o universo possuem suas histórias.
Vamos, aqui, ater-nos tão somente ao ser humano individual, na sua articulação com suas relações constitutivas. É esse o foco que nos interessa, neste momento, para abordar o tema que assumimos como tarefa.
O desenvolvimento de cada um de nós, manifesta-se pelo processo de constituição da individualidade, que é uma trajetória que se faz, simbolicamente, pela passagem do “mundo da mãe” para o “mundo do pai”, ou seja, do mundo simbiótico para o mundo da individualidade e da autodeterminação. Isto não que dizer que, na trajetória da existência, nós todos conseguimos essa façanha . O que estamos afirmando, junto com os teóricos da ciência psicológica, é que o ser humano tende para sua autodeterminação, sua independência, sua autonomia. Contudo, se José, João ou Maria conseguem sua pessoal autodeterminação, isso é outra estória. Uma coisa é uma tendência do Ser, outra é a prática de cada ente existencial, historicamente circunstanciado.
Assim sendo, o desenvolvimento de cada um de nós faz parte de nossa saga pessoal, em nosso processo de interação com o mundo e com os outros, constituindo-nos como individualidades, através da qual nós somos no mundo, nesta experiência de vida. A saga pessoal não é a marcha de um deus todo-poderoso e onipotente, egóico; mas sim de um mortal que caminha através de suas múltiplas interações dialéticas com a vida e seus componentes, constituindo-se na humildade de sua trajetória, mas constituindo-se.
O desenvolvimento pessoal de cada um de nós pode ser compreendido a partir de dois princípios constitutivos: o principio formativo, pelo qual admitimos que somos seres em movimento, seres em construção permanente, numa trajetória que vai do simples para o complexo, do indiferenciado para o organizado; e o princípio organizativo, pelo qual admitimos que nós nos desenvolvemos em nossas interações com o meio, onde se fazem presentes, além do meio natural e social em geral, que tem suas determinações dialéticas específicas , alguns personagens que representam funções essenciais e próximas (por sua vez, também, articuladas com as determinações naturais e sociais) , tais como mãe, pai, configuração familiar nuclear e parental, amigos, professores, conselheiros, terapeutas, etc... Nós nos formamos nas interações que estabelecemos com esse meio e com a consciência que vamos desenvolvendo de nós mesmos através deste processo .
Nesta trajetória, passamos de estados de consciência mais densos para estados de consciência mais sutis, o que quer dizer que podemos estar, na medida do nosso desenvolvimento, cada vez mais abertos às intuições do nosso Ser a respeito do que somos e do que viemos fazer aqui. Se observarmos, por exemplo, como Jean Piaget concebe as fases de desenvolvimento da inteligência, veremos que ele está expondo como nossos estados de consciência estão se desenvolvendo, ou seja, como cada um de nós vai podendo manifestar a consciência que existe em si; a LUZ que existe sem si. Importa estar ciente que Piaget, em seus estudos, não ultrapassou os níveis sensível e intelectivo da consciência, porém, ele nos permite compreender que a consciência se desenvolve, indo dos estágios mais simples e densos para os estágios mais complexos e sutis .
Na fase sensória-motora (aproximadamente de zero até os dois anos de idade), segundo esse pesquisador, organizamos, na medida do possível, nossa experiência, para manifestar nossa consciência física. É a fase onde estamos mais contíguos com a materialidade (estamos comprometidos diretamente com o biológico) e dela dependentes. É, em torno dos dois anos, após uma longa trajetória de acontecimentos, vivências, ação e reações, que conseguimos ter a “noção de objeto”, ou seja começamos a representar, mentalmente, um objeto que está externo a nós; o quer dizer que começamos a “descolar” da materialidade imediata, para poder compreendê-la. Estamos nos alçando a um estado de consciência mais sutil, durante o primeiro período de nossa vida. Nesta fase do nosso desenvolvimento predomina a densidade física.
Do ponto de vista do desenvolvimento da inteligência, Piaget diz que nesta fase predomina a acomodação sobre a assimilação, devido ao fato de que há aí uma permanente presença da imitação . Ou seja, uma aprendizagem decorrente de um processo, onde, na nossa interação com o mundo, predomina a determinação do mundo externo. Isso se dá de forma dialética. Nos constituímos, imitando o que se dá no mundo exterior, sem que isso se faça de modo mecânico. A imitação não é uma cópia, mas o resultado de uma interação, onde tem uma predominância o externo, devido servir de modelo, ao mesmo tempo, que serve de espelhamento da conduta internalizada .
Segundo o autor, a esta primeira fase, segue-se a da formação do símbolo em cada um de nós. Que significa isso? Aproximadamente, dos dois aos cinco-seis anos de idade, vivenciamos predominantemente a experiência da fantasia, sendo mais intenso o uso da assimilação e menos o da acomodação, ou seja, nós, nesse período, tornamos o mundo semelhante a nós mesmos. Isto quer dizer que, nesta fase, nós atuamos mais a partir dos nossos padrões internos de entendimento. Não importa a realidade, como se manifesta, importa a realidade como nós a criamos ou recriamos dentro de nós. A fantasia tem o seu lugar . É neste momento de nossas existências infantis que mais apreciamos os contos de fada. “Me conta uma estória”, pedem todas as crianças. No vôo da fantasia, não importa o mundo real; o que vale é o mundo assimilado ao próprio mundo interno. Neste período, as crianças têm muita dificuldade de viver com disciplina, pois que esta possui regras da “realidade” e essa é uma experiência impossível de ser vivida, neste momento. Nesta fase, já nos afastamos da contiguidade com a materialidade e formamos nossos símbolos, através dos quais ressignificamos a realidade. O mundo externo torna-se semelhante a nós mesmos.
No espaço temporário desta fase como de qualquer outra, haverá um processo de passagem da fase anterior para a subseqüente, num crescendo diário e sucessivo, de tal forma que as ações, no início da fase, são mais parecidas com as ações da fase anterior; contudo, já mais para o final da fase, as condutas serão mais parecidas com as da fase que está para se constituir.
No final desta fase e inicio da próxima, vemos as crianças brincando de casa, de pai, de mãe, de hospital, etc... Inicia-se a aproximação com a realidade. É a saída da consciência fantasmagórica para o início da realidade concreta.
A fase seguinte de desenvolvimento estabelecida por Piaget, é denominada de operatória concreta. Aqui, cada um de nós teve a oportunidade de aprender a manipular objetos da realidade, porém, uma manipulação concreta. Ao tentar construir um objeto, a criança vai experimentando por “acerto e erro”. Dificilmente, ela traça um plano orgânico do que vai fazer. “Ela vai fazer”, com certeza, mas experimentando, concretamente, a manipulação. Não está presente, ainda, o ato lógico de planejar, na sua inteireza. Essa é uma prática própria da próxima fase de desenvolvimento estabelecida por Piaget.
Assim, chegamos a quarta fase denominada de operatória formal. Ela se caracteriza pelo pensamento lógico, capaz de estabelecer relações de causa e efeito, antecedente e conseqüente, seqüência de procedimentos, ordenamento, etc... É a forma mental, através da qual, constituímos a ciência e organizamos a vida cotidiana, de forma estruturada. O modo operatório formal é o estado mais desenvolvido de consciência apontado por Piaget. É o mundo da lógica, da coerência da investigação, interpretação, do discurso.
Se observarmos bem, os estados de desenvolvimento da inteligência, estabelecidos por Piaget, vão da mais lídima contiguidade com a materialidade física para um estado de pensamento conceitual, que opera de modo abstrato, a partir da materialidade, mas independente dela . Em síntese, são estados de consciência que podemos manifestar, hoje, na experiência humana, com certa facilidade. Poderíamos dizer, genericamente falando, que a humanidade atingiu este estágio de consciência. Em termos coletivos, já somos capazes de produzir a ciência, como uma interpretação logicamente organizada do mundo .
Esses níveis de desenvolvimento da inteligência, estruturados por Piaget, constituem os dois estados de consciência mais conhecidos de nós todos, que são os estados sensível e intelectivo. O estado sensível é aquele pelo qual conhecemos o mundo através da percepção sensorial e o estado intelectivo é aquele que nos permite compreender o mundo e a realidade a partir da razão, da mente formal. Com o primeiro, vivemos, predominantemente, a cotidianidade; com o segundo, vivemos o mundo das ciências da literatura, da filosofia; especialmente, a do discurso lógico. Porém, existe um terceiro nível de consciência, que a teoria piagetiana não toca e que vai além da formalidade da inteligência; é a consciência contemplativa. São os místicos do ocidente e do oriente que falam deste estado de consciência, devido vivenciarem-no.
Para o cotidiano de cada um de nós, falar de uma consciência contemplativa ou uma consciência mística apresenta-se como uma conversa um pouco estranha. Contudo, é um estado de consciência, através do qual entramos em contato com as compreensões mais fundamentais da existência. É onde nos abrimos para “escutar o Ser”, a essência de cada um de nós, nossos anseios mais profundos. É uma forma de consciência, onde ocorre uma integração com o todo; já não há mais a separação entre o eu e o não-eu. Uma integração que não suprime a individualidade; porém, é uma experiência onde a individualidade manifesta-se capaz de entregar-se às mais diversas experiências, desde as materiais até as inefáveis, sem temer perder-se e, efetivamente, sem perder-se. É o estado de consciência definido pelos psicólogos transpessoais de “além do ego”, sem que com isso queiram dizer que o ego humano não seja importante.
Ao contrário, estar “além do ego” significa possuir um ego tão bem estruturado que é capaz de permitir vivenciar experiências que são mais intuitivas e sutis do que as experiências da razão e da lógica. É um estado de consciência, onde não há lógica; mas, há integração com o Ser; constitui-se da experiência do inefável. Para saber como ele é, é preciso vivenciá-lo. O testemunho de outros, neste estado de consciência, é tão importante como em qualquer outra experiência do conhecimento, porém, o testemunho não é suficiente para dar ciência do que ele é. Importa experienciá-lo. Também, na ciência, em geral, para alguém se tornar cientista, não basta ter a informação de como a ciência foi produzida pelos outros. Isso ajuda, na medida em que é um testemunho, porém a única maneira de aprender a fazer ciência é “fazer ciência”, compreendendo como ela pode ser feita. A consciência mística já foi experienciada e testemunhada por muitos, tanto no ocidente quanto no oriente. Contudo, além de obtermos os testemunhos, para saber o que e como ela é, importa vivenciá-la e isso só poderá ocorrer se nos dispusermos a ir em sua busca.
Esse estado de consciência contemplativo pode emergir de um processo de meditação silenciosa, onde não é o nosso ego que está ditando as normas, mas sim uma consciência expandida que intui os conhecimentos dos quais necessita; pode vir em momentos onde estamos inefavelmente conectados com uma harmonia musical, sem eu estejamos a apreciá-la julgativamente, mas sim a vivenciá-la em sua harmônica beleza.
Assim como, no decorrer da nossa existência, nos preparamos para manifestar e utilizar os estados sensível e intelectivo da nossa consciência, também, podemos nos preparar para manifestar e vivenciar o estado contemplativo. Também, aqui, vale o conceito de desenvolvimento do estado de consciência.
Deste modo, o segundo ponto de nossa reflexão está minimamente constituído: a consciência que manifestamos em sua experiência é a manifestação das potencialidades do nosso inconsciente emergente, que foram podendo se manifestar com base no “back-ground” que fomos constituindo, ao longo da existência. Nosso sistema nervoso foi se refinando, até onde pode ir, para manifestar o estado de consciência que temos. Para isso, foi necessário cuidado, trabalho, disciplina, busca. Por isso, alguns caminham mais e outros, menos. Não há orgulho nem discriminações, nesse contexto. Tão somente humildes trajetórias de desenvolvimento. Podemos olhar para nosso passado e tomar ciência da trajetória que fizemos para chegar aos estados de conhecimento que já atingimos. No entanto, se já chegamos onde estamos, podemos ir além e, de novo e sempre, será necessária nossa dedicação disciplinada.

3. Atividade lúdica

O terceiro ponto de esclarecimento para o tema que nos propusemos a analisar --- desenvolvimento dos estados de consciência e ludicidade ---, é o conceito do que é lúdico.
Este tema inicia a estar presente em nossas discussões, seja no tratamento da vida urbana, através das questões do lazer, seja na psicoterapia como recurso de cura, seja na educação física como recurso de desenvolvimento físico da criança e do adolescente, e mais recentemente, na educação em geral. Neste último âmbito de ação, praticamente, estamos iniciando a estudá-lo e a compreendê-lo.
Tomando por base os escritos, as falas e os debates, que tem se desenvolvido em torno do que é o lúdico, tenho tido a tendência em definir a atividade lúdica como aquela que propicia a “plenitude da experiência”. Comumente se pensa que uma atividade lúdica é uma atividade divertida. Poderá sê-la ou não. O que mais caracteriza a ludicidade é a experiência de plenitude que ela possibilita a quem a vivencia em seus atos. A experiência pessoal de cada um de nós pode ser um bom exemplo de como ela pode ser plena quando a vivenciamos com ludicidade. É mais fácil compreender isso, em nossa experiência, quando nos entregamos totalmente a uma atividade que possibilita a abertura de cada um de nós para a vida.
Dançar, com entrega da totalidade do nosso ser, sem pensamentos críticos, sem julgamentos, conduz a uma plenitude, a um prazer expandido e sem limites. É claro, é preciso se dispor a sentir esse prazer. Mas, também, vivenciar uma boa conversa, sem barreiras e sem os trejeitos dos nossos preconceitos, possibilita um bem-estar pleno. Produzir um bom texto, com tudo o que ele tem de direito, de metáforas, alegorias, poesia, argumentação clara, etc..., dá ao seu autor uma prazer muito grande, na medida em que vivencia a completude de sua obra. Produzir uma tela, através da magia da pintura, dá plenitude a quem pinta com prazer. Brincar dá prazer a quem se dispõe a vivenciar essa experiência. Esses e muitos outros exemplos poderiam ser lembrados, como atos que trazem em si a plenitude da experiência e que não necessariamente são divertidos. Os atos divertidos, por si, deveriam, também, ser lúdicos, porém existem atos divertidos que não são lúdicos para todos os participantes de uma experiência. Por exemplo, quando dentro de um grupo de amigos, alguns realizam uma prática de “tirar sarro” dos outros. Isso pode até ser divertido, mas não tem nada de lúdico, desde que manifesta o poder de uns sobre os outros e, pior, um poder desqualificador.
Em síntese, sou muito tentado a dizer que o que caracteriza uma atividade lúdica é a “plenitude da experiência” que ela propicia a quem a pratica. E uma atividade onde o sujeito entrega-se a experiência sem restrições, de qualquer tipo, especialmente as mentais, que, usualmente, tem por base juízos pré-concebidos sobre as coisas e práticas humanas.
No caso da disciplina Educação e ludicidade: teoria e prática, que venho ministrando no decorrer do presente semestre letivo (segundo de 1998), estou trabalhando com os alunos através de múltiplas experiências que possibilitam acessar diversos estados de consciência, tendo como foco de atenção a brincadeira e o jogo como recursos de autodesenvolvimento.

4. Atividade lúdica e desenvolvimento dos estados de consciência

Como a atividade lúdica se articula com o desenvolvimento dos estados de consciência? Freud foi um dos primeiros pesquisadores a propor uma compreensão de como o brincar atua na vida humana. Dizia ele que o sonho era o caminho real para o inconsciente do adulto e que o brinquedo era o caminho real para o inconsciente da criança. Melanie Klein, a partir dos estudos de Freud, deu curso a sua compreensão sobre o significado do brinquedo para a criança, constituindo um corpo de conhecimentos, teórico e prático, sobre o entendimento e o uso do brinquedo como recurso de cura e de desenvolvimento da personalidade da criança. Centrou o seu trabalho de psicanalista infantil no uso dos brinquedos em psicanálise infantil, assim como sua atividade de pesquisa .
Outras tradições, como a rogeriana, produziram estudos e criaram modos de usar o brinquedo na cura e no desenvolvimento do ser humano. Nesse contexto, Virgínia Mae Axline, discípula de Carl Rogers, desenvolveu bastante o ludoterapia .
Porém, Jean Piaget construiu uma compreensão sobre o brincar como recurso de desenvolvimento do ser humano, que considero importante para a compreensão do tema que estamos estudando. Em seu livro a Formação do símbolo na criança, estuda o desenvolvimento do ser humano, da infância à juventude, quando inicia o processo de maturação do adulto, tendo como centro a formação dos símbolos na mente humana e isso se dá através das atividades lúdicas. Em primeiro lugar, como ele classifica, no processo de desenvolvimento, estão os jogos de exercício, que correspondem a etapa de desenvolvimento sensório-motor; a seguir vem os jogos simbólicos, que estão articulados com a fase da fantasia, dos contos de fadas, da assimilação do mundo a si mesmo. E, por último, estão os jogos de regras, que só podem ser jogados por quem, no seu processo de desenvolvimento, aproximou-se, inicialmente, da realidade e, posteriormente, da formalidade do pensar.
Os três tipos de jogos necessitam de ser jogados múltiplas vezes, para que um determinado patamar de consciência se estruture e mantenha-se com a qualidade desse estágio. Uma atividade vivida ou praticada uma ou poucas vezes não irá constituir-se em um modo organizado de agir (um hábito). Torna-se necessário que um determinado tipo de atividade seja repetido múltiplas vezes, ainda que com determinadas variações circunstanciais; sempre, evidentemente, de forma consciente, tendo em vista não só ter acesso a um novo estado de consciência, mas especialmente em ter a capacidade de manter-se nele.
O mais difícil não é poder atingir um novo estado de consciência, momentaneamente; o mais difícil é a capacidade de manter-se nele. As crianças, então, jogam os seus jogos tantas vezes quantas forem necessárias para resolver seus problemas internos, manifestem-se eles, de fato, como problemas já existentes ou como problemas que possam vir a existir . A repetição torna-se necessária para o esgotamento da possibilidade da situação (seja na perspectiva de solucionar um problema do passado, ou seja na perspectiva de construir uma solução para o presente o para o futuro) até que o sujeito (criança, adolescente ou adulto) tenha a consciência de que essa determinada situação é assim e já não mais o ameaça.
Deste modo, há uma articulação constante entre o desenvolvimento dos estados de consciência e a atividade lúdica. A atividade lúdica é aquela que dá plenitude e, por isso, prazer ao ser humano, seja como exercício, seja como jogo simbólico, seja como jogo de regras. Os jogos apresentam múltiplas possibilidades de interação consigo mesmo e com os outros.

5. Concluindo

O ser humano é um ser que, na sua essência, é CONSCIÊNCIA, é LUZ. Ele é um fóton da Luz que constitui o universo e todas as coisas. Porém, como vive no Planeta Terra, que é físico, e, por isso, denso, não pode facilmente manifestar essa CONSCIÊNCIA. Necessita de desenvolver-se e constituir o seu próprio estofo, sua própria base, para que possa manifestar essa Luz, da qual é uma centelha. Quando mais desenvolvido for o seu estado de consciência, mas sutil será a sua possibilidade de manifestar essa Luz.
Todas as possibilidades de desenvolvimento de nossa consciência estão em nós mesmos, já nos foram dadas. Nosso inconsciente emergente contém todas essas possibilidades. Podemos atualizá-las, na medida do nosso desenvolvimento. A CONSCIÊNCIA não é dada plenamente manifesta; ela nos é dada como um DOM. Para que se manifeste, necessita da nossa capacidade para manifestá-la e esta, por sua vez, depende do nosso desenvolvimento. Então a consciência se desenvolve.
Por último, muitas são as possibilidades de desenvolvimento de nossos estados de consciência, o que importa é que elas sejam inteiras e plenas. A atividade lúdica, para que seja lúdica, necessita dessa inteireza; por isso, podem nos auxiliar e muito em nosso próprio processo de desenvolvimento e, conseqüentemente, da nossa possibilidade de expressar a Luz que somos.
A educação é um lugar muito especial, através da qual nós nos auto-organizamos, em nossas interações com as múltiplas dimensões da vida, tendo em vista manifestar o nosso Ser. Afinal, educação significa conduzir (ducere) de dentro para fora (e).... e, por isso, manifestar o nosso Ser.

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