O Colegial
Mário Quintana
O vento passa lá fora
e eu, no quadro negro imóvel
- ó muro de fuzilamento!
Morro sem dizer palavra.
O professor parece triste,
talvez por outros motivos.
Manda sentar-me
e eu carrego
ó almazinha assustada,
um zero, como uma auréola...
Rezai, rezai pelas alminhas
dos meninos fuzilados!
Por que é que nos ensinam
tanta coisa?
Eu queria saber contar
só com os dedos da mão!
O resto é complicação,
um nunca mais acabar.
Eu queria mesmo era poder estudar
teu corpo todo com a mão
até sabê-lo de cor
– como um ceguinho...
E o vento passa lá fora
com a sua memória em branco.
O que ele viu, nem recorda...
e eu nada vi: só adivinho!
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