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terça-feira, 31 de maio de 2011

PASSAGEM DAS HORAS – Fernando Pessoa

Trago dentro do meu coração,
como num cofre que se não pode fechar, de cheio,
todos os lugares onde estive,
todos os portos a que cheguei,
todas as paisagens que vi,
todas as pessoas que amei...
E tudo isso, que é tanto,
é pouco para o que quero.
Não sei se sinto demais ou de menos, não sei...
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque de tão interessante que é,
a todos os momentos, a Vida,
chega a doer, a enjoar,
a cortar, a roçar, a ranger,
a dar vontade de dar gritos, de dar pulos,
de ficar no chão, de sair para fora de todas as casas,
de todas as lógicas, de todas as sacadas,
e ir ser, selvagem, para a morte!
Vi todas as coisas, maravilhei-me de tudo,
E tudo... ou sobrou ou foi pouco.
E eu sofri.
Vivi todas as emoções,
todos os pensamentos
todos os gestos.
Amei e odeie como toda gente.
Realizei em mim toda humanidade!

Multipliquei-me para me sentir!
Para me sentir precisei sentir tudo,
transbordei, não tenho feito senão extravasar-me!
Ai sentir!
Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
ser a mesma coisa de todos os modos possíveis!
Meu coração mercado,
Meu coração rende -vous de toda humanidade,
Meu coração clube, sala, platéia, capacho,
Ponte, cancela, viagem, leilão, feira, arraial,
Eeeeehhh lá Iáaaaa! Meu coração bazar!
Vamos, vamos!
Quem mais consigo me tornar?!
Todos os amantes se beijaram na minha alma.
Todos os vadios dormiram, por um momento,
em cima de mim.
Todos os desprezados
encostaram-se, por um momento, no meu ombro.
E no meu ombro, todo esforço quotidiano
De um povo pacífico... e limpo!
E toda a minha raiva de não conter isso tudo,
de não deter tudo isso! – as coisas belas da vida-
Falta sempre alguma coisa!
Um copo, uma brisa, uma frase...
E a vida dói quanto mais se goza
e quanto mais se inventa.
E poder rir?
Rir, rir despejadamente,
Rir como um copo entornado,
Absolutamente roto por me roçar nas coisas,
Ferido na boca por morder as coisas,
com as unhas em sangue por me agarrar às coisas!...
E depois... me dêem a cela que quiserem
que eu me lembrarei da vida!
Eu, que fui educado pela imaginação,
Que viajei pela mão dela, sempre!
“Dizei, senhora viúva, com quem quereis se casar?
Se é com o filho do Conde, se é com seu General,
General, General...”

Vamos, vamos! Quem mais eu consigo me tornar?
Eu, que queria comer, beber,
Esfolar e arranhar o mundo!
Eu, que só me contentaria com calcar do universo aos pés
e calcar, calcar, calcar até não mais sentir...
Se eu pudesse trincar a terra toda
e sentir-lhe um paladar!...
Seria mais feliz – por um momento- ...

Mas eu nem sempre quero ser feliz!
É preciso ser, de vez em quando, infeliz
para se poder ser natural.
Porque nem tudo é dias de sol.
E a chuva, quando falta, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade, naturalmente,
como quem não estranha que haja montanhas e planícies.
E que haja rochedos e erva.


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