Relações raciais no cotidiano escolar: implicações para a subjetividade e a afetividade
Por
Eliane dos Santos Cavalleiro
Como um
passo decisivo rumo à promoção do respeito e da igualdade no ambiente escolar,
a reflexão sobre a dinâmica das relações raciais vivenciadas nesse espaço não
pode mais ser protelada, em especial por todos(as) aqueles(as) que se consideram
ou ocupam o posto de educador(a). Uma vez reconhecida a presença do racismo, do
preconceito e da discriminação racial na sociedade, temos de atentar para a
reprodução desses problemas no cotidiano escolar. De fato, as experiências em
sala de aula não estão alheias ao racismo e seus derivados; conectam-se às de
muitos outros espaços, passando até mesmo por nossas residências, chegando aos
nossos filhos, com ou sem a nossa permissão.
Há algum
tempo, estudos e pesquisas apontam a presença de racismo e de discriminação
racial em várias instituições socializadoras, como a escola, os meios de
comunicação, a religião, o trabalho e, até mesmo, a família. Recentemente, os
sites da internet tornaram-se mais um veículo para a estimulação do ódio
racial.
No caso
particular do sistema de ensino, tendo em vista que o racismo opera de maneira
tanto consciente quanto inconsciente, as pesquisas acadêmicas indicam os
profissionais da educação como agentes reprodutores da discriminação e do
racismo no espaço escolar, desde aqueles que atuam em educação infantil, até
mesmo aqueles que atuam em níveis escolares mais elevados. Não por outro
motivo, a subjetividade e a afetividade nas relações estabelecidas no cotidiano
escolar são aspectos a serem levados em conta quando da análise das
desigualdades no desempenho escolar e das taxas de acesso e permanência entre
crianças negras e brancas no cotidiano escolar.
Ao mesmo
tempo, será também na escola que a criança aprenderá atitudes em relação ao seu
grupo e a outros grupos raciais representativos em sua sociedade, que são
sustentados pela família e pela sociedade mais ampla. Com isso, aprenderá de
qual grupo racial é integrante, e disso derivará parte de sua identidade
social. Nesse caminhar, a criança poderá ou não adquirir preconceitos raciais,
pois as idéias preconceituosas presentes na sociedade em relação à raça são
transmitidas da mesma maneira que todos os valores sociais: por gestos,
palavras, atitudes cotidianas, e, em geral, dos mais velhos para os mais
jovens.
Os preconceitos
fazem parte de uma tradição cultural que se transmite, por assim dizer,
espontaneamente: as crianças adquirem-nos pelo contato com os seus professores,
colegas, mestres da escola dominical (religiosa), e sobretudo com seus pais.
Entre estes últimos, alguns não querem que suas crianças tenham preconceitos;
outros, pelo contrário, inculcam-nos nelas, porque eles próprios foram educados
na convicção de que é conveniente e natural tê-los. Eles o fazem agindo de uma
certa maneira, exprimindo certas aversões, opondo-se a certas relações,
formulando certos comentários, deixando entender que é ridículo ou vergonhoso
fazer isto ou aquilo, etc. Acontece mesmo que os adultos fazem troça das
crianças para melhor lhes despertar certos preconceitos. Mas, na maior parte
dos casos, os adultos não têm consciência de que inculcam preconceitos nas
crianças...
Portanto,
devemos atentar para o fato de que a organização de uma sociedade racista conta
com mecanismos estruturados de discriminação racial. Esses mecanismos se
encontram presentes nos mais diversos fatores que colaboram para a socialização
da criança, como enfatizado anteriormente. Ao realizarem a mediação entre
criança e sociedade, podem proporcionar-lhes aprendizagens que enfatizam a hierarquia
entre os grupos raciais, contribuindo para a propagação de valores, crenças e
comportamentos racistas às futuras gerações.
A
família, por seu turno, exerce grande influência na transmissão de valores e
crenças a respeito dos grupos raciais, de maneira explícita ou implícita. Os
familiares, fontes de socialização, reforçam normas e monitoram comportamentos
em relação aos grupos. Além do mais, na Igreja, o ensinamento de valores e
crenças racistas pode ocorrer de modo direto, pelo impedimento de participação
igualitária às pessoas negras ou pertencentes a outros grupos excluídos, ou de
maneira indireta, pela percepção, por parte das crianças, de tratamentos
diferenciados às pessoas desses grupos, ou ainda, por meio da influência sobre
os pais.
http://www.acordacultura.org.br/
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